segunda-feira, 28 de abril de 2008

Homofobia silenciosa

Numa época em que as pessoas querem mostrar indignação, sempre me lembro de um episódio tratado com naturalidade por todos no meu trabalho. Sem culpa, despediram uma colega por ser gorda. Era a única queixa dos meus antigos chefes em relação a ela. Todos sabíamos, menos a menina obesa, qual a razão de seu seguro-desemprego: seu corpo afrontava o quesito modernidade exigido naquele local de trabalho.

O silêncio talvez explique também o que um leitor, que preferiu não se identificar, me escreveu sobre o seu ambiente de trabalho: "As piadinhas que os caras fazem em relação aos gays não me incomodam. Elas são menos homofóbicas do que o papel de minha coordenadora que, sabendo que sou homossexual, me trata de modo diferente. Enquanto pessoas menos talentosas no escritório recebem regalias, estou sempre atolado em trabalho, sem qualquer ajuda. Só exigências. Achava estranho, até perceber que ela era uma verdadeira homofóbica. Pior do que me tratar como um cidadão de segunda classe é seu preconceito dissimulado, difícil de comprovar. Sei que existe, eu sinto. Não é delírio de bicha".

Também tive uma chefe que contava que eu era gay a todos os que entravam na firma. Nunca na minha frente. A princípio, achei que ela fazia isso para dar uma espécie de ISO de modernidade para ela e para a empresa. Ao final, percebi que era a maneira de ela tentar evitar ser homofóbica. A homofobia silenciosa é muito mais complexa e perigosa, pois tenta nos emudecer da maneira cruel: pela loucura da subjetividade!
COLABORAÇÃO: Vitor Angelo "JORNALISTA DA FOLHA"

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