sexta-feira, 13 de junho de 2008

COMPORTAMENTO

Namorados gays ainda sofrem discriminação

Apesar do preconceito, casais revelam que há romantismo em relacionamentos gays. Em pleno século XXI, relacionamentos homossexuais ainda são alvo de muito preconceito. Namoradas há três anos, Valdinéia Pontes, 33, e Maria de Fátima Pereira, 29, não se abalam com as críticas e, juntas, construíram uma família.

Após um casamento heterossexual de 13 anos e mãe de dois filhos, a funcionária pública Valdinéia viu no relacionamento com outra mulher uma chance para ser feliz. Ela conta que, durante o tempo em que foi casada, nunca se sentiu realizada como mulher. “Quando a Fátima me procurou, senti uma atração e decidi tentar, pois com homens nunca havia me realizado, além de ter sofrido muito”, lembra.Diferente da companheira, Maria de Fátima sabia desde a infância que não se relacionaria com homens, mas o destino fez com que concebesse uma filha. Hoje, a família é unida e conta com três filhos adolescentes. Elas revelam que no início foi difícil fazer com que todos se unissem. Com o tempo, porém, tornaram-se ‘irmãos’ e não dão importância ao preconceito ou brincadeiras inoportunas de outros adolescentes.
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Quanto ao relacionamento, o casal avalia que, assim como nos casos heterossexuais, há brigas, mas tudo é passageiro. O romantismo também existe e não é disfarçado. “Nós assumimos, andamos juntas na rua e nos chamamos de ‘amor’”, disse Fátima.Pela aparência masculinizada, muitas vezes ela é confundida com um homem. A companheira Valdinéia faz questão de dizer a verdade. “Digo logo que é ela e não ele”, brinca. No dia dos namorados, o casal vai trocar presentes. “Cada uma escolhe o presente da outra. Engraçado é que no dia das mães também nos presenteamos”, conta Valdinéia.
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No caso de Guilherme e André (nomes fictícios), o preconceito é ainda maior devido à diferença de idade. Aos 43 anos, Guilherme começou a se relacionar com André, de apenas 16. Após dois anos de relacionamento, a polêmica em torno do casal é menor. “As pessoas diziam que eu havia influenciado o André. Esta é uma afirmação tola, levando-se em conta que ninguém muda a opção sexual por intermédio de outra pessoa”, acredita Guilherme.
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O carinho e romantismo também estão presentes na relação, mas são disfarçados em público. “Acredito que não seja nem pelo fato da gente ser conhecido na cidade, mas sim pelos olhares atravessados de todos, ainda que em cidades desconhecidas. Isso faz com a gente não fique à vontade”, disse Guilherme. No dia dos namorados, os dois irão trocar presentes. Guilherme já presenteou o namorado com uma bolsa e André ainda espera uma oportunidade para comprar o presente.
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Assim como Valdinéia, Guilherme também já teve um casamento heterossexual, mas já havia tido experiências anteriores com homens. Desta união, nasceram dois filhos, hoje com 19 e 22 anos. “Meus filhos aceitam o André e o respeitam. Meu pai era minha maior preocupação, por se tratar de uma pessoa de idade, mas hoje todos nos damos muito bem”, conta Guilherme. O casal discorda quando o assunto é o fim do preconceito em algum momento da existência humana. André acredita que a tendência é que ele seja amenizado, enquanto Guilherme teme que isso nunca aconteça. “O homossexualismo vem de muito tempo e se até hoje o preconceito assombra este meio, sinto que isso nunca será diferente”, avalia.
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Para psicóloga, repressão ao homossexual é forma de poder.
A psicóloga e professora universitária Ana Roberta Prado Montanher, de Bauru, acredita que a repressão ao homossexualismo seja uma forma de manutenção de poder, especialmente por parte da igreja. Ela lembra que, ao relacionar o casamento à reprodução, cria-se uma barreira aos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. “Hoje, tanto homo quanto heterossexuais não esperam o casamento para se relacionar sexualmente e têm independência para optar por ter filhos, mas esta é uma idéia já embutida no imaginário das pessoas, daí a resistência”, acredita a especialista.
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Ele ressalta que o grande desafio de qualquer casal é fazer com que o romantismo, típico da fase de namoro, não acabe após o casamento, o que também é meta dos homossexuais. “Isso está no imaginário de todo mundo, até por conta do capitalismo, que não tardou em inserir o público homossexual, através de marketings direcionados. Essa foi uma forma de tirar estas pessoas, ainda que pouco, da marginalidade”, acredita.
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Ana Roberta chama a atenção para a falta de manifestações de carinho entre esse público. “Na parada gay, por exemplo, não pudemos ver este tipo de coisa. Houve uma afirmação de identidade, mas o envolvimento sentimental, que existe nestes casos, foi esquecido”, disse.

Quanto ao preconceito, a psicóloga crê um dia vê-lo cair por terra. “A tônica social é a diversidade. Acho que as pessoas que não se adaptarem a ela é que vão ser os marginalizados daqui a alguns anos”.
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Ela afirma ainda que o fato de uma pessoa se sentir atraída por outra do mesmo sexo não interfere em sua masculinidade. “Não é porque ela se relaciona com outro homem que não tem em si as características masculinas. Um homem pode ser muito seguro de si na masculinidade, mesmo nestes casos, assim como as mulheres”, avalia.

By aSSSumidos.

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